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Marina Izidro
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Jornalista com experiência em coberturas internacionais, Marina Izidro acompanha de perto os desdobramentos políticos, sociais e econômicos do continente europeu. Sua coluna traz as notícias mais relevantes da Europa, com foco nas movimentações do Reino Unido e da União Europeia, impactando a economia e a cultura global.

Uso de cigarros eletrônicos supera o de cigarros comuns no Reino Unido

Nova lei em debate no Parlamento quer restringir o acesso e reduzir o apelo entre jovens.

Pela primeira vez, o número de pessoas acima de 16 anos que utilizam cigarros eletrônicos ultrapassou o de fumantes de cigarros tradicionais no Reino Unido. Dados do órgão nacional de estatísticas mostram que 5,4 milhões de pessoas fazem uso regular ou diário dos chamados vapes, enquanto 4,9 milhões continuam fumando cigarros convencionais.

Há dez anos, a diferença era inversa: 18% da população preferia o cigarro comum, contra apenas 3,7% que usavam cigarros eletrônicos. A faixa etária com maior concentração de usuários de vapes está entre 25 e 49 anos. Um dado que preocupa as autoridades é o aumento do consumo entre jovens — quase 7% dos usuários têm a partir de 16 anos.

Os cigarros eletrônicos chegaram ao mercado como uma alternativa considerada menos prejudicial e como ferramenta para ajudar fumantes a abandonar o vício. Com o tempo, no entanto, empresas passaram a desenvolver versões com diferentes sabores e formatos, tornando o produto mais atraente para quem nunca havia fumado. Essa mudança ampliou o público e despertou a atenção de órgãos de saúde, que alertam para os riscos associados ao uso.

Os cigarros eletrônicos contêm nicotina, aditivos químicos e substâncias com potencial viciante. Os riscos de longo prazo ainda não são totalmente conhecidos, mas já há consenso sobre o impacto negativo desses dispositivos, especialmente entre adolescentes. O governo britânico manifestou preocupação com a popularização dos produtos entre menores de idade e anunciou medidas para restringir sua comercialização.

Atualmente, é proibida no Reino Unido a venda de cigarros eletrônicos e de qualquer produto com nicotina para menores de 18 anos. Também está vetada a comercialização de vapes de uso único, decisão tomada por motivos ambientais. Mesmo assim, existe um mercado ilegal ativo, que tenta atingir o público mais jovem, embora de forma restrita e paralela.

Em andamento no Parlamento britânico, a chamada Lei do Tabaco e Cigarros Eletrônicos pretende endurecer as regras de fabricação, venda e publicidade desses produtos. A proposta proíbe a compra de qualquer item com tabaco por menores de 16 anos e busca diminuir o apelo dos vapes, especialmente entre quem não fuma.

O texto estabelece novas limitações à propaganda e impõe regras sobre sabores, formatos e embalagens. A legislação também deve ampliar as áreas de proibição ao fumo, incluindo locais públicos abertos, como áreas externas de escolas, hospitais e praias. A intenção é reduzir a exposição dos jovens e desencorajar o hábito.

A mudança no perfil dos fumantes ocorre num país que já passou por grandes transformações no comportamento em relação ao tabaco. Nos anos 1970, fumar era visto como algo comum e socialmente aceito — quase metade da população britânica mantinha o hábito. Com o avanço das campanhas de conscientização e das restrições em locais fechados, o número de fumantes caiu de forma expressiva.

Apesar dos avanços, o fumo continua sendo a principal causa de mortes evitáveis no Reino Unido. O aumento do consumo de cigarros eletrônicos reabre o debate sobre como equilibrar políticas de redução de danos e a proteção de novos grupos de risco. A nova legislação em discussão pretende responder a esse desafio, tentando conter o crescimento do vaping entre jovens e reduzir seus impactos sobre a saúde pública.