O presidente Luiz Inácio Lula da Silva lançou o Fundo Florestas Tropicais para Sempre (Tropical Forest Forever Facility – TFFF), uma iniciativa global inédita voltada à proteção e valorização das florestas tropicais. O anúncio foi feito durante a COP30, em Belém (PA), e marca uma das propostas mais ambiciosas já lideradas pelo Brasil na agenda climática internacional.
O TFFF surge em um momento de alerta histórico para o planeta. Segundo a Organização Meteorológica Mundial (OMM), o ano de 2025 deve ser o segundo ou terceiro mais quente já registrado, com temperaturas médias 1,42°C acima dos níveis pré-industriais.
O relatório da OMM, divulgado também durante a cúpula climática, reforça que será “praticamente impossível” manter o aquecimento global dentro do limite de 1,5°C nos próximos anos, sem medidas urgentes e de grande escala.
Como vai funcionar o fundo
O TFFF tem o objetivo de remunerar países que preservam suas florestas tropicais, transformando a conservação ambiental em um investimento econômico sustentável. O mecanismo vai pagar por floresta em pé, e não apenas por emissões evitadas de carbono, incentivando práticas produtivas que mantenham a vegetação nativa e reduzam o desmatamento.
Os pagamentos serão baseados em desempenho ambiental: países que mantiverem o desmatamento abaixo de 0,5% ao ano receberão mais recursos, comprovados por monitoramento via satélite. A gestão financeira ficará sob responsabilidade do Banco Mundial, enquanto o TFFF será responsável pela governança e pela distribuição dos repasses.
Estrutura financeira e países participantes
O fundo pretende mobilizar até US$ 125 bilhões, combinando recursos públicos e privados. A base será formada por US$ 25 bilhões em aportes de governos e outros US$ 100 bilhões provenientes do setor privado. O rendimento anual, estimado entre US$ 3 bilhões e US$ 4 bilhões, será destinado aos países que comprovarem redução no desmatamento.
O Brasil, primeiro a contribuir, aportou US$ 1 bilhão, seguido por Noruega (US$ 3 bilhões), Indonésia (US$ 1 bilhão) e França (US$ 500 milhões). Estão entre os países participantes Colômbia, Peru, República Democrática do Congo e Gana, que abrigam algumas das maiores áreas de floresta tropical do planeta.
Cerca de 20% dos valores repassados deverão ser destinados a povos indígenas e comunidades tradicionais, reconhecendo o papel central dessas populações na proteção dos biomas.
Contexto climático global
De acordo com a OMM, todos os anos entre 2015 e 2025 estão entre os mais quentes da história, resultado direto do aumento recorde dos níveis de gases de efeito estufa e do acúmulo de calor nos oceanos. O relatório também aponta que a extensão do gelo no Ártico e na Antártida atingiu mínimas históricas, e que o nível do mar segue em elevação, afetando milhões de pessoas em regiões costeiras.
Eventos climáticos extremos — como ondas de calor, inundações e incêndios florestais — se tornaram mais intensos e frequentes, gerando impactos sociais e econômicos severos. Durante a COP30, o secretário-geral da ONU, António Guterres, alertou que “cada ano acima da marca de 1,5°C ampliará as desigualdades e causará danos irreversíveis”, reforçando a urgência de ações concretas.
O papel do Brasil e a ambição da COP30
O TFFF é visto pelo governo brasileiro como símbolo da liderança climática do país e um dos principais legados da COP30. Lula e a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, destacam que a proposta representa uma virada de chave na forma como o mundo enxerga a preservação ambiental — não como custo, mas como oportunidade de investimento.
“Já exploramos demais a natureza para gerar riqueza. Agora é hora de usar a riqueza para proteger a natureza”, afirmou Marina Silva durante o lançamento.
Por que isso importa
O TFFF coloca o Brasil no centro do debate climático global, propondo um novo modelo econômico para a conservação ambiental. Em um cenário em que as temperaturas globais batem recordes e os impactos climáticos se intensificam, a criação de mecanismos financeiros sustentáveis pode definir o futuro das florestas tropicais — e, consequentemente, do equilíbrio climático do planeta.
Se bem implementado, o fundo tem potencial para reduzir o desmatamento, ampliar a justiça climática e impulsionar uma transição verde real, conciliando desenvolvimento econômico com preservação ambiental.
