Ao Vivo TMC
Ao Vivo TMC
Luiz Felipe Pondé
Luiz Felipe Pondé
Filósofo de destaque, professor universitário e autor de diversos livros, Pondé é conhecido por suas análises ácidas e reflexões profundas sobre a cultura, a sociedade contemporânea e a existência humana. A coluna Sem Dó oferece uma visão crítica e sem concessões sobre os temas do cotidiano, provocando o ouvinte a pensar para além do senso comum.

Na COP30, Lula critica guerras e cobra energia limpa enquanto o Brasil enfrenta guerra interna

Há muito tempo, a filosofia sabe e afirma que toda forma de governo, de Estado, seja em âmbito nacional ou internacional, tem uma dimensão circense. Isso não poderia faltar no caso da COP, realizada na Amazônia, em uma cidade que, infelizmente, não tem a mínima condição de suportar um evento desse tamanho.

O presidente Lula pediu formas de geração de energia que substituam o combustível fóssil. Surge a pergunta: pediu para quem exatamente? Nos últimos tempos, Lula tem se estabelecido cada vez mais como um grande bravateiro, já que não há muito o que mostrar em seu governo. O resultado é que, nesse caso, fica a dúvida sobre a quem se dirigiu o pedido — aos adultos da sala, aos países ricos, a quem?

A COP30 luta para ter alguma relevância, não apenas por causa de seus próprios problemas ou porque Lula não consegue toda a verba que desejava para o fundo da floresta. A conferência, enquanto conceito, tem pouca importância além dos documentos intermináveis. No fim das contas, quem decide tudo são as democracias e os governos nacionais.

Lula também fez críticas às guerras. Criticar guerras é algo simples de se fazer, ainda mais quando se está em um país que vive praticamente uma guerra civil. Torna-se contraditório criticar guerras quando o próprio país está à deriva, com o Estado nacional perdendo soberania para o crime. Isso não é culpa exclusiva do Partido dos Trabalhadores, pois há décadas governos diversos negligenciam a segurança pública.

Ainda assim, com quatro mandatos, o PT poderia ter feito algo. Mas nada foi feito. Cada vez mais, o debate sobre segurança pública parece apenas mais um capítulo da polarização política. Ninguém parece realmente interessado em resolver o problema.

A delinquência se espalha pelo país. E, portanto, quando Lula vai à COP e faz discursos criticando guerras, acaba por lançar pedras no telhado alheio enquanto o seu próprio está rachado. A guerra no Brasil é praticamente uma guerra civil — uma guerra do crime organizado contra a população e contra o próprio Estado.

Não há, no horizonte, nenhuma solução à vista. Assim, soa incoerente participar de uma reunião internacional e criticar guerras quando há “culpa no cartório”. É lamentável que o país precise assistir a exemplos como esse, que beiram o ridículo.

A filosofia, como já dizia há séculos, reconhece a dimensão circense do poder em todos os governos. Não há diferença de um regime para outro nesse aspecto. No caso das democracias, é necessário agradar a população e manter a imagem de um líder preocupado com o bem comum.

Entretanto, sabe-se que, na política, o “bem” costuma significar o bem do partido e de quem deseja permanecer no poder para tirar suas vantagens — especialmente em um país como o Brasil.

Por isso, discursos de crítica às guerras e declarações sobre a necessidade de novas matrizes energéticas que substituam os combustíveis fósseis — enquanto todos continuam explorando petróleo, inclusive o Brasil — apenas demonstram que, no fim das contas, a política continua sendo, em grande parte, uma encenação.