O resultado da inflação de outubro surpreendeu a maior parte dos analistas, que projetavam um índice mais alto para o período. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) registrou alta de 0,09%, abaixo das estimativas predominantes, que variavam entre 0,10% e 0,25%. A diferença, embora pequena em termos percentuais, foi interpretada como sinal positivo para o cenário econômico e político.
A desaceleração no ritmo de alta dos preços tem sido percebida pela população. Levantamentos recentes mostram que a parcela de brasileiros que relatava insatisfação com o preço dos alimentos caiu de 88% para 58%, evidenciando uma mudança gradual na percepção sobre o custo de vida. Esse movimento contribui também para o ambiente de maior estabilidade política, ao diminuir um dos principais fatores de preocupação entre os consumidores.
O desempenho dos mercados financeiros refletiu essa leitura. A valorização da Bolsa de Valores e a queda do dólar indicaram otimismo diante da expectativa de que o Banco Central não precise elevar a taxa básica de juros, atualmente em 15%. O alívio nas pressões inflacionárias abre espaço para uma postura mais cautelosa da autoridade monetária, que passa a avaliar a possibilidade de cortes no próximo ciclo.
A reação positiva do mercado também se explica pela antecipação de movimentos futuros. A dinâmica financeira tende a projetar cenários antes de sua concretização, e um dos principais pontos de atenção é a trajetória da Selic. Com a inflação se aproximando do teto da meta, de 4,5%, há uma crescente expectativa de que os juros possam começar a cair em 2026.
O boletim Focus, previsto para a próxima segunda-feira, deve confirmar essa tendência. As revisões feitas pelos economistas podem indicar que o IPCA caminha para voltar à faixa de tolerância prevista, o que reforçaria o otimismo. A percepção de que o índice pode “beliscar” a meta de inflação fortalece as apostas de que a Selic não apenas será mantida, mas poderá iniciar um ciclo de redução nos próximos trimestres.
A taxa de juros tem papel central no desempenho das empresas e no crescimento econômico. Quando ela se mantém em níveis muito altos, o custo do crédito encarece, o consumo diminui e o investimento empresarial é freado. Um ambiente de juros mais baixos, por outro lado, tende a impulsionar a demanda, facilitar o refinanciamento de dívidas e melhorar a saúde financeira das companhias.
O movimento observado na Bolsa reflete essa antecipação. A expectativa de cortes na Selic estimula os investidores, que projetam maior rentabilidade para setores dependentes de crédito e financiamento, como construção civil, varejo e indústria. A melhora nas condições de crédito também tende a reduzir o endividamento das empresas, permitindo que elas invistam mais e gerem resultados melhores.
O comportamento dos preços nos últimos meses reforça a perspectiva de um ciclo de estabilidade. Mesmo sem alcançar o centro da meta de 3%, a convergência da inflação para o teto de 4,5% é suficiente para sustentar o otimismo dos agentes econômicos. Essa leitura se reflete em maior confiança dos investidores e na percepção de que a política monetária começa a surtir efeito sem comprometer o controle dos preços.
O conjunto de indicadores — queda da inflação, estabilidade cambial e valorização da Bolsa — desenha um quadro de expectativa moderadamente positiva para o fim de 2025 e o início de 2026. A possibilidade de cortes graduais na taxa Selic se fortalece como um dos temas centrais da política econômica para o próximo ano, com impacto direto no crédito, na atividade produtiva e na renda.
A continuidade dessa tendência dependerá, entretanto, da manutenção do controle inflacionário e da reação dos mercados internacionais, especialmente em relação à política monetária dos Estados Unidos. Ainda assim, o resultado de outubro é visto como um ponto de inflexão importante após meses de pressão sobre os preços e incerteza sobre o rumo da taxa de juros.
A leitura predominante é que o cenário de inflação sob controle devolve confiança ao setor produtivo e reduz tensões entre governo e mercado, consolidando o otimismo em torno de uma possível queda da Selic em 2026.
