Ao Vivo TMC
Ao Vivo TMC
InícioEconomiaBrasileiros reduzem o consumo de café e priorizam o...

Brasileiros reduzem o consumo de café e priorizam o preço como critério de escolha

O estudo da Associação Brasileira da Indústria de Café (ABIC) mostra como a alta do produto tem redefinido os padrões de consumo no país

O Brasil, país com forte tradição cafeeira e de consumo doméstico da bebida, está vivenciando uma mudança no hábito. Segundo a pesquisa “Café – Hábitos e Preferências do Consumidor (2019–2025)”, realizada pelo Instituto Agronômico de Campinas (IAC) e pelo Instituto Axxus, com apoio da Associação Brasileira da Indústria de Café (ABIC) e do NEIT/Unicamp, 24% do público afirma ter reduzido o consumo de café, o que representa o maior percentual da série desde 2019.

O estudo ouviu 4.200 pessoas, em todas as regiões do país, em setembro de 2025, com o objetivo de refletir o impacto da economia e inflação sobre um dos produtos mais tradicionais da mesa do brasileiro. Sérgio Parreiras Pereira, pesquisador do Instituto Agronômico (IAC) e um dos responsáveis pela pesquisa, explica que, apesar de o café permanecer presente no cotidiano dos brasileiros, o padrão de consumo está mais moderado, racionalizado e orientado pelo preço.

“Quase todo mundo toma café ao acordar, mas o poder de compra do brasileiro diminuiu, isso fez com que parte das pessoas reduzissem a quantidade consumida e passasse, também, a comprar de forma mais cuidadosa seu café. O que a gente vê é um comportamento de ajuste econômico, não só uma mudança de gosto. O brasileiro continua gostando de café, mas está comprando de forma mais cautelosa e priorizando o bolso, procurando manter o hábito, mas gastando menos.”

A proporção de pessoas que declaram consumir mais de seis xícaras de café por dia caiu de 29%, em 2023, para 26%, em 2025.

Fatores que justificam os dados

Ainda de acordo com o estudo do IAC e do Instituto Axxus, o valor é um dos maiores influenciadores na forma de comprar e de consumir.

Quase quatro em cada dez entrevistados (39%) afirmaram comprar a opção mais barata. Eram 16% em 2023. Isso significa que a fidelidade às marcas perdeu espaço para o preço.

A principal explicação reside na forte pressão da inflação sobre o café. Tanto no produto torrado e moído quanto nas cápsulas, os custos aumentaram de forma intensa. O levantamento da ABIC, de 2025, destaca que o café está entre os alimentos com maiores altas nos últimos dois anos e mostra que o quilo do café está custando, em média, R$ 62,83, quase o dobro em relação a dois anos atrás, quando o valor nas prateleiras era de R$ 32,40.

Dados do IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), que mede a inflação oficial do país, calculado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), aponta que o valor da bebida já subiu quase 61% nos últimos 12 meses, apesar de ter caído em julho e agosto.

Diante desse cenário de consumo mais contido, a recuperação do setor depende diretamente da trajetória da inflação e do poder de compra das famílias. Felipe Queiroz, economista-chefe da Associação Paulista de Supermercados (APAS), fala sobre as tendências do mercado. 

“Esperamos que tenhamos uma inflação controlada moderada. Neste ano de 2025, o processo é de estabilização dos preços, porém alguns itens ainda têm descolado da curva, como é o caso, por exemplo, do café. Para o próximo ano nós já acreditamos que o processo de alta do preço do café já tenha encerrado e a tendência se inverta. Com isso, o consumidor vai voltar a consumir e o seu poder de compra tende a aumentar.”, ressalta Felipe.

Pequenos Instantes

Outra mudança significativa destacada pela pesquisa se refere ao local e à forma de consumo da bebida. O índice de frequência a cafeterias, bares ou cafés fora de casa caiu de 51% para 39%, entre os anos de 2023 e 2025.

Sentar em uma cafeteria e apreciar um bom café é, para muitos, um momento de lazer e descanso. Para outros, é também uma oportunidade de aproveitar o ambiente aconchegante para uma reunião ou uma boa conversa entre amigos. É o que diz Sebastian Grau, que além de ter seu próprio cantinho, também atua como influenciador digital no ramo. Ele destaca o papel das redes sociais em lembrar os consumidores de que as cafeterias proporcionam muito além do que apenas a bebida.

“Ás vezes, as cafeterias deixam de estar presentes nas redes sociais, deixam de lembrar as pessoas que nós somos, como donos de cafeteria, como cafeterias, uma boa opção não só de bebida café, porque o brasileiro já está acostumado a tomar café, mas, sim, de um pequeno presente, de um pequeno luxo que a pessoa pode se dar ao longo do dia, ou ao longo da semana, ou ao longo do mês.”

Proprietário da cafeteria Coffee Punch, Sebastian traz uma visão prática sobre a queda de frequência e as possíveis adaptações devido a baixas nas estatísticas.

“As mudanças que a gente tem de cardápio, as mudanças que a gente faz nas nossas cafeterias de novidades, é muito mais para atrair o cliente. As pessoas não têm o hábito de ir numa cafeteria todos os dias, por exemplo, e gastar 80 reais, mas se ela tiver a possibilidade de ir numa cafeteria e gastar 20, 25, 30 reais, ela tende a aumentar um pouco a frequência.”

Mesa de preparo de café
(Foto: Unsplash)

Os preços altos e o atendimento irregular em alguns estabelecimentos estão entre os motivos apontados para essa queda. O preparo em casa, por outro lado, ganha força, especialmente com cápsulas e sachês, que oferecem praticidade e custo mais previsível.

Raio-X

O consumidor brasileiro está, assim, mudando seu hábito de consumo, menos cafés fora de casa e mais preparo doméstico, com maior atenção ao custo-benefício.

O levantamento também revela transformações no comportamento e nas preferências:

O consumo de café sem açúcar aumentou: 11% dos entrevistados preferem a bebida pura.

Já 63% dos consumidores compram café em supermercados.

O YouTube superou outras redes sociais como principal fonte de informação sobre café, sendo usado por 13,2% dos consumidores.

Apesar da queda, o consumo de produtos diferenciados no mercado cafeeiro, como cafés “premium” ou gourmetizados, tende a crescer com o controle da inflação. É o que explica o economista-chefe da Associação Paulista de Supermercados (APAS), Felipe Queiroz.

“Com o controle inflacionário, os consumidores voltarão a degustar outros produtos e sempre há espaço para produtos como um café especial, um café gourmetizado, que demanda um valor monetário inegavelmente maior, e com o controle da inflação esses produtos tornam-se mais acessíveis aos consumidores”, conclui.

O café continua a fazer parte da rotina de 98% dos brasileiros e, mesmo que a relação tenha mudado, a bebida ainda mantém sua importância como elemento de sociabilidade. A tendência não é a erradicação do consumo, mas, sim, um ajuste. É o que explica Celírio Inácio, diretor executivo da ABIC.

“A ida às cafeterias e o consumo de cafés especiais diminuíram um pouco, isso é verdade, mas isto está longe de ser desinteresse pelo café, mas, sim, é um reflexo da nossa economia atualmente. Acreditamos que o consumo total tende a se manter estável com o crescimento do preparo doméstico e das soluções práticas.”

Notícias que importam para você

Ovo, arroz e cebola mais baratos pesam na prévia da inflação de 0,18% em outubro

Dados do IBGE, divulgados nesta sexta-feira (24), indicam que os alimentos ficaram mais baratos pelo quinto mês consecutivo

Carros que vendem pouco, mas podem valer a pena em 2025: veja 5 modelos

Esses cinco carros mostram que nem sempre as vendas refletem o real valor de um carro

Lula critica uso do dolar às vésperas de encontro com Trump

Além de confirmar que disputará seu quarto mandato como presidente do Brasil nas eleições de 2026, o presidente Luiz...