A megaoperação da Polícia Civil e Militar do Rio de Janeiro nos complexos da Penha e do Alemão terminou com 121 mortos (31/10), incluindo quatro agentes de segurança. O balanço final foi divulgado pela Cúpula da Segurança Pública, que revelou nomes de chefes do Comando Vermelho (CV) de diferentes estados — um indicativo de que o Rio virou o quartel-general da facção em nível nacional.
Facção transformou favelas em centro de poder
Segundo o secretário de Polícia Civil, Felipe Curi, as comunidades passaram a centralizar decisões e treinar novos integrantes para o tráfico em outros estados. “Os marginais vêm para o Rio de Janeiro, são formados aqui e depois retornam aos seus estados de origem para disseminar a cultura da facção”, afirmou.
O principal alvo, Edgar Alves de Andrade, conhecido como Doca, considerado o maior chefe do CV em liberdade, conseguiu escapar. Ele é subordinado apenas a Marcinho VP e Fernandinho Beira-Mar, ambos presos em presídios federais.
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Chefes do tráfico mortos na operação
Entre os 121 mortos, 39 eram de outros estados e 78 tinham histórico criminal. A seguir, os principais nomes identificados pela polícia:
“Chico Rato” – de Manaus (AM)
Nome real: Douglas Conceição de Souza, 32 anos.
Histórico: Condenado a 40 anos por duplo homicídio, era ex-integrante da Família do Norte (FDN), antiga rival do CV. Com a queda da FDN, passou a atuar no Comando Vermelho, onde ganhou relevância nacional. Segundo a polícia amazonense, comandava o tráfico no bairro Tancredo Neves e mantinha ligação direta com João Branco, ex-líder da FDN.
“Gringo” – de Manaus (AM)
Nome real: Francisco Myller Moreira da Cunha, 32 anos.
Histórico: Natural de Eirunepé (AM), estava foragido desde abril de 2024 por homicídio e organização criminosa. Considerado o principal articulador do CV no Norte, era responsável por recrutar e enviar membros para treinamentos no Rio.

“Russo” (ou “Gordinho do Valão”) – de Vitória (ES)
Nome real: Alisson Lemos Rocha, 27 anos.
Histórico: Líder do tráfico no bairro Barro Branco, em Serra (ES), e investigado pela Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa. Mantinha forte ligação com o CV carioca, controlando rotas de drogas e armas para o Sudeste.
“Mazola” (ou “Dani”) – de Feira de Santana (BA)
Nome real: Danilo Ferreira do Amor Divino.
Histórico: Considerado o chefe do tráfico em Feira de Santana, atuava na logística de envio de drogas da Bahia para o Sudeste. A polícia afirma que ele era o elo entre o CV e grupos locais, articulando a expansão da facção no interior baiano.

“DG” – de Feira de Santana (BA)
Nome real: Diogo Garcez Santos Silva.
Histórico: Possuía passagens por associação ao tráfico e porte ilegal de arma. Segundo investigações, era um dos principais homens de confiança de Mazola, cuidando de operações locais e da segurança de carregamentos.
“FB” – de Alagoinhas (BA)
Nome real: Fábio Francisco Santana Sales.
Histórico: Investigado por execuções e ameaças ligadas ao tráfico. Atuava em Alagoinhas e Feira de Santana, controlando bocas de fumo e participando da coordenação regional do CV.
“Fernando Henrique dos Santos” – de Goiás (GO)
Histórico: Ligado ao tráfico de Itaberaí (GO), respondia por homicídio e associação criminosa. Era apontado como responsável por integrar o CV no Centro-Oeste e por abrir novas rotas para o envio de drogas e armas.
“PP” – do Pará (PA)
Histórico: Um dos representantes do CV no Norte, fazia parte da célula responsável por transportar armamentos e coordenar ataques contra facções rivais na fronteira com o Amapá.
“Rodinha” – de Itaberaí (GO)
Histórico: Associado de Fernando Henrique dos Santos, controlava o tráfico local e fornecia apoio logístico a faccionados que se deslocavam para o Rio para “treinamento tático”.]
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Operação de guerra e desdobramentos
A ação mobilizou centenas de agentes, blindados, helicópteros e equipes táticas em um dos maiores confrontos urbanos já registrados no país. Além das mortes, a polícia apreendeu armas de grosso calibre, drogas, munições e veículos.
O governo fluminense classificou a operação como “necessária” para desarticular o comando nacional do crime organizado, que, segundo as investigações, articulava ataques e execuções em pelo menos nove estados.
O paradeiro de Doca e o debate sobre a violência
Mesmo com o saldo histórico de mortos, o principal alvo da operação — Doca — segue foragido. Fontes policiais afirmam que ele fugiu em comboio de motos momentos antes do cerco. O caso reacende o debate sobre o uso da força policial, o controle das facções e a escalada da violência nas favelas cariocas.
