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Diego Sarza
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Com mais de 10 anos de carreira, Diego Sarza já conduziu telejornais na GloboNews, CNN Brasil, BandNews TV e UOL. Como repórter, colaborou com a CNN Portugal e participou de grandes coberturas, como eleições presidenciais e o rompimento da barragem de Brumadinho, em Minas Gerais. Na TMC, o jornalista une linguagem acessível e credibilidade.

Por que cada vez mais brasileiros decidem deixar seus filhos doentes ao recusar vacinas?

A vacinação é uma das ferramentas mais eficazes de saúde pública já criadas. Salvou milhões de vidas ao longo do último século.

O Brasil sempre foi reconhecido internacionalmente como um exemplo quando o assunto é vacinação. Durante décadas, campanhas públicas eficientes e amplamente divulgadas garantiram altas coberturas vacinais e o controle de doenças que, em outros países, ainda representavam risco à população. A erradicação da poliomielite e a drástica redução de casos de sarampo, por exemplo, foram conquistas alcançadas com o esforço conjunto entre Estado e sociedade.

No entanto, essa realidade tem se transformado nos últimos anos. Em um ambiente político marcado por polarizações intensas e desinformação disseminada nas redes sociais, cada vez mais pessoas escolhem ignorar o consenso científico e se alinhar a discursos negacionistas. Essas decisões não apenas colocam em risco a própria saúde, mas expõem crianças — especialmente as mais vulneráveis — a doenças que poderiam ser facilmente prevenidas.

O Ministério da Saúde divulgou no último domingo (02) dados preocupantes: o número de bebês e crianças menores de cinco anos que morreram por doenças evitáveis pela vacinação voltou a crescer no Brasil em 2024. As informações são do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM).

Segundo o levantamento, 48 mortes foram registradas em 2024 em decorrência de doenças que poderiam ser evitadas com imunização. Em 2023, foram 15 mortes. O aumento de 220% em apenas um ano revela o impacto direto da queda na cobertura vacinal. Por trás desses números, há famílias que decidiram ignorar décadas de evidências científicas e, com isso, expuseram seus filhos a riscos desnecessários.
Entre os bebês, o cenário é ainda mais alarmante. O número de recém-nascidos expostos a doenças evitáveis cresceu 227% em 2025, passando de 16 para 34 casos. São vidas interrompidas antes mesmo de completarem o primeiro ano, vítimas não apenas de microrganismos, mas de escolhas influenciadas por desinformação e medo.

De acordo com reportagem publicada pelo UOL, a coqueluche foi a doença que mais contribuiu para esse aumento. Trata-se de uma infecção respiratória grave, altamente contagiosa, que pode causar complicações sérias em bebês. A enfermidade não matava crianças no Brasil desde 2021, mas voltou a aparecer justamente entre populações com baixa adesão à vacinação.

A prevenção é simples e gratuita. Os bebês devem receber três doses da vacina pentavalente, aplicadas aos 2, 4 e 6 meses de idade. Além disso, gestantes devem ser imunizadas com a DTPa em todas as gestações, o que garante proteção indireta ao recém-nascido nos primeiros meses de vida. Mesmo com todas essas informações amplamente disponíveis, o negacionismo tem levado mães e pais a exporem seus filhos a doenças que já estavam sob controle.

O fenômeno está relacionado ao que muitos estudiosos chamam de necropolítica — a política da morte. Nessa lógica, decisões coletivas e individuais passam a ser guiadas mais por ideologias ou sentimentos de pertencimento a determinados grupos do que por fatos e evidências. Pessoas deixam de confiar em instituições científicas e médicas e passam a seguir influenciadores e políticos que propagam desconfiança sobre o sistema de saúde.

Durante a pandemia de Covid-19, esse comportamento ficou evidente. Em um momento em que a vacina representava esperança e proteção, parte da população passou a enxergá-la como símbolo de disputa política. A imunização, que deveria unir o país em torno de um propósito comum, acabou transformada em campo de batalha ideológico. O resultado é uma herança de desconfiança que ainda hoje compromete campanhas de vacinação em todo o território nacional.

O retorno de doenças já controladas, como sarampo e poliomielite, acende um alerta. Quando a cobertura vacinal cai, o vírus encontra espaço para circular novamente. Isso coloca em risco não apenas as crianças não vacinadas, mas também aquelas que, por razões médicas, não podem receber determinadas doses. A imunização coletiva depende da responsabilidade individual — e, quando essa responsabilidade é abandonada, toda a sociedade paga o preço.

A vacinação é uma das ferramentas mais eficazes de saúde pública já criadas. Salvou milhões de vidas ao longo do último século e continua sendo fundamental para o controle de epidemias. É um ato de proteção e solidariedade, não apenas consigo mesmo, mas com toda a comunidade.

Espero sinceramente que as pessoas possam retomar uma visão mais próxima da realidade. É possível pertencer a um grupo político, defender ideias e valores, sem abrir mão do respeito à ciência e à vida. A democracia também se sustenta em decisões informadas e responsáveis. Se o debate público ainda não foi capaz de sensibilizar quem se afastou dos fatos, que o amor pelos filhos seja o impulso necessário para o retorno à razão.

Que cada mãe e cada pai entendam que vacinar é um gesto de cuidado, de proteção e de esperança. É garantir que as próximas gerações cresçam em um país mais saudável, onde a ciência e a vida caminhem juntas — como sempre deveria ser.