Especialista em segurança pública, o professor Lenin Pires fez críticas à espetacularização das ações da polícia, como a que aconteceu na Operação Contenção, na semana passada, no Rio de Janeiro.
Em entrevista à rádio TMC 360, o doutor em Antropologia afirmou que operações midiáticas, como aquela nos complexos da Penha e do Alemão, servem de cortina de fumaça em benefício dos governantes.
“A direção que o país está tomando no debate sobre segurança pública é muito ruim por conta desta espetacularização“, disse o professor do Departamento de Segurança Pública e do Instituto de Estudos Comparados em Administração de Conflitos da Universidade Federal Fluminense (UFF).
“Há algum tempo que essa espetacularização está a serviço de jogar uma bomba de fumaça para a inépcia dos governantes, particularmente do Rio. O Estado do Rio de Janeiro é, do ponto de vista econômico e social, um estado falido, principalmente por causa da atuação dos seus governantes, sendo que a maioria deles já foi preso em função dos seus desmandos”, declarou.
Pires afirmou que a Operação Contenção chamou mais a atenção pelo número de mortos, mas outras ações do tipo vêm sendo recorrentes no Rio nos últimos anos.
“O governador Cláudio Castro já contabiliza duas ou três chacinas desta natureza, sendo que o que foi perpetrado na semana passada está um pouco fora da escala usual deste tipo de espetacularização. Muitas coisas ainda precisam ser esclarecidas sobre essa ação, ainda há mortos a serem trazidos ao conhecimento público.”
POLÍTICA E SEGURANÇA
O professor demonstrou preocupação com a suposta ligação entre políticos e o crime organizado. “É necessário que a gente comece a conhecer com profundidade as conexões de setores da política com o mundo do crime. O interesse destes setores faz com que o combate ao crime deve ser sempre uma cortina de fumaça”, declarou.
“É necessário e urgente hoje que se faça um levantamento em nível nacional de quais são os atores políticos que têm conexões com o crime para que eles possam ser afastados destas dinâmicas e se comece, então, a fazer um trabalho que seja eficaz e afaste do mundo da política esses atores que vem negligenciando uma série de pautas que são do interesse da sociedade.”
Para o especialista, a segurança pública precisa ser pensada em nível nacional, de forma unificada. “O caminho é pensar a segurança pública como uma pauta nacional e corrigir um erro na Constituição de 1988, que isentou a União de participar deste assuntos de forma a padronizar a atuação das forças de segurança.”
