Eu disse que essa notícia dos adolescentes causa estranhamento e eu sinto angústia ao ouvir isso. Adolescentes acordados, relatos de disputa para tomar remédio. Eu me pergunto o que é isso e o que podemos dizer sobre esse caso. Eu escuto que filhos hoje são apontados em pesquisas como uma das principais fontes de ansiedade. Pais formam um grupo social muito ansioso no mundo contemporâneo. Existe uma ansiedade específica com relação aos riscos que crianças passam.
Quando existe um remédio em casa, tomado por um adulto com ordem médica, a criança pega esse remédio, toma, divide com colegas e se expõe a risco. A parentalidade hoje é dominada por uma consciência aguda de que filhos são expostos a uma série de riscos que não podem ser totalmente controlados. Redes sociais, como o TikTok, são mais uma fonte ansiogênica. As duas coisas se encontram. A suspeita de que existe estímulo, disputa, ou desafio, forma uma tempestade de ansiedade. Filhos causam ansiedade. Muitas pessoas jovens recusam ter filhos e uma das causas é esse sentimento de que ter filhos significa abrir a vida para o acaso e para o risco.
As redes sociais ampliam isso, porque não se sabe o que acontece ali e em que o filho ou a filha está envolvido. Então se cria uma tempestade perfeita na produção de ansiedade. Eu pergunto se a ansiedade é o grande mal do nosso momento, se já havia isso na história, ou se é novidade. É difícil fazer paralelos históricos, porque faltam ferramentas. Mas existem descrições de sonhos no começo do cristianismo que revelam ansiedade com relação ao futuro da alma na eternidade. Então é possível falar sobre ansiedade na antiguidade tardia.
O termo ansiedade foi ganhando presença e discussão com o tempo, porque quando algo começa a ser falado, passa a existir mais. O tema da angústia e da ansiedade no mundo contemporâneo se liga à necessidade de controlar muitas coisas e ao fracasso quando se tenta controlar tudo. Existe dúvida sobre o que é certo ou errado, sobre o que é fato ou fake news. Há desconfiança geral das relações.
Quando voltamos à questão das crianças, a pergunta aparece nas conversas: o que eles têm na cabeça ao aceitar desafios das redes sociais? Essa pergunta às vezes pode ter um tom de crueldade contra jovens que são vítimas. Eles são vítimas, não se traz culpa. Pais perguntam o que eles têm na cabeça, mesmo oferecendo educação, suporte e apoio.
Existem trabalhos que apontam que hoje há características específicas nos jovens. Eles se sentem mais ansiosos, mais perdidos, e as redes sociais produzem um sentimento de inadequação, porque existem pessoas mais adequadas e bem sucedidas no próprio meio jovem. Mas quando se pergunta o que eles têm na cabeça, é preciso lembrar do que se tinha na cabeça quando se era jovem. Não é só ter casa, comida e escola. Existe um plano imaginativo. O adolescente tem menos noção de risco. Jovens sempre foram fáceis de serem influenciados por pessoas mais velhas e por grupos aos quais pertencem. As redes sociais ampliam o escopo de influência.
O que eles têm na cabeça? Se divertir, viver desafios e quase nenhuma noção de risco. É isso.
