Uma pesquisa do Instituto de Políticas Públicas do King’s College de Londres mostra que os britânicos acreditam que o Reino Unido nunca esteve tão dividido e que a maioria da população não sente orgulho do próprio país. A correspondente Marina Izidro conversou com Rodrigo Alvarez e Joana Treptow, no TMC 360, sobre os resultados do levantamento e o cenário social britânico.
De acordo com Marina, a pesquisa entrevistou quatro mil pessoas com mais de 16 anos em agosto deste ano e comparou os resultados com dados de 2020. O objetivo do estudo foi traçar um mapa do sentimento dos britânicos ao longo dos últimos cinco anos.
Entre os principais pontos, o levantamento mostra que a porcentagem de pessoas que acreditam que o Reino Unido está mais dividido subiu de 74%, em 2020 — período marcado pela saída do país da União Europeia, o Brexit —, para 84% em 2025.
Segundo os entrevistados, alguns dos fatores que acentuaram essa divisão são as tensões relacionadas à imigração e as opiniões divergentes sobre mudanças climáticas. O estudo também registrou que mais do que dobrou o número de pessoas que acreditam que as políticas voltadas aos direitos das pessoas transgênero foram longe demais.
Outro dado relevante é a percepção negativa sobre o termo woke — expressão usada para descrever quem se preocupa com causas sociais e se posiciona contra o racismo. Atualmente, a maioria dos britânicos considera que ser chamado de woke é algo malvisto.
O levantamento aponta ainda que metade dos entrevistados acredita que a cultura britânica está mudando muito rápido — contra 35% que tinham essa percepção antes —, e que há um sentimento de nostalgia presente em todas as faixas etárias.
A proporção de pessoas que afirmam sentir orgulho do país também caiu: passou de 56% para 46%. Jovens e minorias étnicas são os grupos que expressam menor sentimento de orgulho nacional.
Marina Izidro comentou que o resultado não a surpreende, pois, segundo ela, o Reino Unido vivia uma divisão política marcada pelo Brexit e, nos últimos anos, essa frustração parece ter migrado para outros temas. A correspondente observou que o sentimento antimigração voltou a crescer, em um contexto em que há também forte preocupação com o custo de vida, com a inflação elevada e com o funcionamento do sistema público de saúde, o NHS — instituição da qual os britânicos tradicionalmente se orgulhavam.
Ela acrescentou que o NHS enfrenta atualmente problemas de infraestrutura, longas filas de espera e greves, o que alimenta o descontentamento. Esse cenário se soma à percepção de que o alto custo de vida não é compensado por serviços públicos eficientes, apesar da elevada carga tributária.
De acordo com Marina, as discussões sobre imigração voltaram a ocupar o centro do debate público. “Quando o Brexit aconteceu, em 2016, havia um clima quase tóxico em relação a esse tema”, lembrou. “As pessoas brigavam na rua, nos grupos de família. Depois isso diminuiu, mas agora o sentimento antimigração voltou.”
Ela explicou que esse retorno do debate traz consigo preocupações sobre as consequências da chegada de imigrantes e refugiados. A presença de pessoas que chegam ao país em pequenas embarcações — um fenômeno que ganhou destaque nos últimos anos — alimenta a percepção de que os serviços públicos estão sobrecarregados.
Entre as preocupações mais citadas estão o impacto nos hospitais, os abrigos e os benefícios concedidos pelo governo. A população teme que a imigração pressione ainda mais áreas já fragilizadas, como saúde e moradia.
Para a correspondente, o resultado do estudo revela que os britânicos estão mais voltados a questões internas, com foco em resolver problemas domésticos, especialmente o custo de vida e a economia. Ela destacou que, embora o sentimento de divisão do período do Brexit tenha diminuído, as tensões sociais se transformaram e agora se expressam em outros temas, como imigração, identidade cultural e insatisfação com os serviços públicos.
Essas preocupações aparecem diariamente nas manchetes dos jornais britânicos, refletindo um país em busca de estabilidade em meio a mudanças políticas e sociais significativas.
