A indústria brasileira voltou a pisar no freio. Os dados divulgados pelo IBGE revelam que a produção do setor caiu 0,4% em setembro, na comparação com agosto. O resultado, embora ainda represente um crescimento de 2% frente ao mesmo mês do ano passado, mostra uma clara perda de fôlego. No acumulado de 2025, a alta é de apenas 1%, e, nos últimos 12 meses, de 1,5%. Tal ritmo é insuficiente para amparar uma recuperação de longo prazo.
O recuo vem após o crescimento de 0,7% em agosto e confirma que a indústria brasileira segue longe de uma retomada consistente. Três das quatro grandes categorias econômicas pesquisadas registraram queda. São elas, bens de consumo duráveis (-1,4%), bens intermediários (-0,4%) e bens de consumo não duráveis (-0,1%). Apenas o segmento de bens de capital, termômetro do investimento produtivo, teve variação positiva de 0,1%. No entanto, trata-se de um respiro modesto demais para trazer resiliência ao setor.
Entre os 25 ramos industriais analisados, 12 apresentaram retração. Setores de peso como o farmacêutico (-9,7%), as indústrias extrativas (-1,6%) e o de automóveis (-3,5%) puxaram a performance para baixo. O desempenho negativo da indústria automobilística é elucidativo e representa não só a desaceleração da demanda doméstica, mas também os desafios de competir em mercados globais com produtos de maior valor agregado.
Mesmo com números positivos em alguns segmentos, como alimentos (+1,9%) e madeira (+5,5%), o resultado segue preocupante. O setor industrial continua 14,8% abaixo do pico histórico atingido em 2011. Há 14 anos, a indústria brasileira não consegue recuperar o nível de produção que já teve, o que evidencia a profundidade dos problemas estruturais.
A conjuntura atual tampouco ajuda. O chamado custo Brasil, composto, por exemplo, por energia cara, logística deficiente e burocracia excessiva, continua corroendo a competitividade das empresas. A isso se somam as incertezas externas, como a guerra tarifária e as tensões geopolíticas.
A indústria de bens de capital, que serve de termômetro para os investimentos de longo prazo, caiu 1,7% em relação a setembro de 2024. Esse dado é especialmente preocupante, uma vez que, sem investimento produtivo, não há ganho de produtividade e, sem produtividade, o país segue condenado a crescer pouco e mal.
Há décadas, o Brasil tenta resolver a sua desindustrialização prematura sem encarar de frente os gargalos que o paralisam. Embora tenham ocorrido avanços em determinados aspectos, há muito ainda por fazer. É necessário ampliar a infraestrutura, racionalizar a carga tributária, simplificar o ambiente de negócios e incentivar a inovação tecnológica. Tais ações precisam de uma visão de longo prazo, baseada em evidências, que sobreviva às trocas de governo e às pressões do curto prazo político.
Em um mundo de rápida transformação tecnológica, insistir em uma estrutura produtiva antiquada é caminhar para a irrelevância. O Brasil precisa decidir se quer ter uma indústria capaz de competir globalmente ou se continuará insistindo em, fundamentalmente, exportar produtos primários, sujeitos às oscilações de preços e às crises externas.
O dado de setembro é mais do que uma estatística. É um aviso de que o país ainda não encontrou o caminho do crescimento sustentado. Enquanto a indústria patina, o crescimento segue limitado, o emprego qualificado escasso e o futuro industrial do Brasil cada vez mais distante.
Indústria brasileira freia outra vez: produção cai 0,4% em setembro
