O município de Rio Bonito do Iguaçu, no Paraná, viveu sua pior tarde na sexta-feira (07/11). Um tornado devastou 90% da cidade, deixou seis mortos e ao menos 750 feridos, segundo a Defesa Civil. Em poucos segundos, casas vieram abaixo, comércios foram destruídos e moradores ficaram soterrados. O governo estadual decretou calamidade pública.
O repórter da TMC, Cleber Molleta, conversou com alguns moradores.
“Nunca vi igual, só em filme”

A moradora Eloudi Maria Dilce descreveu os momentos de pânico vividos com a filha durante a passagem do tornado. Segundo ela, tudo aconteceu em questão de segundos. “Eu nunca vi nada parecido, só em filme. Foram 40 segundos de puro horror”, relatou.
Ela conta que havia acabado de chegar em casa, onde a filha de 18 anos estava sozinha. “Coloquei uma pizza no forno e falei que a luz ia acabar. Fui acender uma vela, mas joguei a vela longe e disse: ‘vamos para o banheiro’.” O refúgio durou pouco: o cômodo começou a estalar e ceder. Mãe e filha correram então para o quarto, construído em concreto. “Ficamos ali agarradas até tudo passar”, afirmou.
Ao sair, o cenário já era de destruição total. “Um carro desceu rodando rua abaixo e um homem muito machucado caiu perto da nossa casa”, contou. As duas socorreram a vítima e conseguiram um carro para levá-la ao posto de saúde. Na farmácia da família, apenas o telhado havia sido arrancado.
Sem condições de permanecer no município, Eloudi e a filha caminharam pelas ruas devastadas até encontrar um vizinho. “Seguimos para Laranjeiras, onde passamos a noite. Voltamos hoje cedo para ver o que sobrou”.
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“A casa caiu inteira em cima de mim”

O segurança Jeferson Veloso se preparava para sair de casa quando o tornado atingiu a cidade. Ele conta que estava jantando antes do turno no posto de saúde, enquanto a esposa se arrumava para ir à igreja. “Começou a dar uns picos de luz e, de repente, as telhas começaram a levantar”, lembra.
Assustada, a esposa correu para se proteger. “Ela se escondeu debaixo da cama. Eu não tive tempo de correr.” Em poucos segundos, toda a estrutura da casa veio abaixo. “A casa inteira caiu em cima de mim. Fiquei preso debaixo da mesa”, relatou.
Após ser resgatado, Jeferson tenta entender o tamanho do estrago. Para ele, o desafio agora é começar do zero. “Agora é tentar, aos poucos, reerguer tudo: a casa e a cidade. Vai levar tempo.”
“Ficamos sem nada”

A moradora Luiza Veloso, esposa de Jeferson, estava se preparando para ir à igreja quando o tornado atingiu a cidade. Segundo ela, tudo aconteceu rápido demais para qualquer reação. “Fiquei debaixo da cama”, contou. Apesar do susto, ela não teve ferimentos. “Não me machuquei, só o impacto mesmo.”
Ela explica que acompanharia o marido, que iria trabalhar durante um congresso religioso no fim de semana. “Eu disse que iria junto com ele para a igreja. Saímos para isso… e em dois minutinhos ficamos sem nada.”
Luiza morava na casa havia oito anos e agora tenta entender a perda repentina do lar. “Foi tudo muito rápido.”
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“Perdi anos de trabalho em 30 segundos”

A comerciante Rosana Vial Vosnei, dona de um mercado destruído pelo tornado, descreveu a cena como devastadora. “Não tem explicação. Em 30 segundos detonou tudo, derrubou tudo”, afirmou. Ela diz que perdeu, em meio minuto, o que a família levou anos para construir. “O mercado estava cheio. A gente nem sabe se todo mundo conseguiu sair.”
Segundo Rosana, o estabelecimento tinha 50 funcionários, dos quais 22 estavam trabalhando no momento da tragédia. No prédio acima do mercado ficava a casa da família. “Meu esposo e meus dois filhos conseguiram sair. Minha filha e meu genro estavam no andar de cima. A casa desabou toda também.”
Sem lar e sem negócio, ela admite não saber como recomeçar. “Estamos sem casa, sem mercado, sem nada. Não sei o que vou fazer. Nem consigo pensar.” Em meio ao choque, tenta encontrar forças. “Agora é pegar na mão de Deus. Foi através dele que veio, então ele que sabe.”
“Era um cenário de guerra”

O morador Juliano passou horas procurando os tios após o tornado. “Ninguém sabia onde eles estavam, estavam todos desaparecidos”, contou. A família percorreu ruas destruídas e unidades de saúde em busca de notícias. “Achei o tio Guido no pronto-socorro daqui e a tia Neuza em Nova Laranjeiras, porque aqui não tinha capacidade de atender todo mundo. Muita gente acabou sendo transferida.”
Ele descreve o que viu ao chegar ao atendimento de emergência. “Parecia um cenário de guerra. Carros estourados, tudo destruído.” Segundo Juliano, as equipes recebiam vítimas em todas as condições. “Chegava gente de todo tipo: ferimentos pequenos, médios, graves… muita gente sendo encaminhada direto para a UTI.”
Para ele, a cena da noite anterior dificilmente será esquecida. “Era desespero por todos os lados.”
