Em um mundo cada vez mais acelerado, onde a privação do sono afeta milhões de pessoas, dormir bem nunca foi tão valorizado. Nos últimos anos, uma nova tendência surgiu no setor de viagens: o turismo do sono.
Hotéis e resorts ao redor do mundo estão investindo em infraestrutura, tecnologia e serviços para oferecer aos hóspedes noites de descanso profundo, transformando o ato de dormir em uma experiência de luxo e autocuidado.
A indústria do turismo do sono se vende como uma espécie de oásis para os cansados, um retiro onde se aprende a dormir bem e a importância disso. Em alguns destinos, isso envolve quartos com isolamento acústico, iluminação controlada, colchões de última geração, massagens, aromaterapia e até acompanhamento especializado de terapeutas do sono.
Descansar se tornou luxo
Com o aumento da demanda por lugares relaxantes, serviços relacionados ao turismo do sono tiveram um crescimento significativo dentro das empresas. Dados coletados em 2022 pela Booking.com com mais de 24 mil entrevistados de 32 países mostram que esa tendência do turismo do bem-estar se destacou entre os viajantes brasileiros, sendo que 39% queriam encontrar a paz em um retiro de silêncio e 42% consideravam fazer uma pausa dedicada à saúde.
Ainda segundo o levantamento, no Brasil, os turistas afirmam que desejam viajar para dormir melhor. Nelson Benavides, gerente Regional da Booking.com, afirma que, há alguns anos, a equipe vem identificando uma demanda crescente por viagens focadas no bem-estar e na saúde, tanto física quanto mental, e mudanças vêm sendo feitas para atender essas necessidades.
Quando o assunto é turismo do sono, o hotel NH Collection Curitiba, na capital paranaense, é uma das principais referências. Seus quartos foram projetados para garantir o máximo conforto, com cortinas blackout, isolamento acústico e detalhes pensados para potencializar o relaxamento. Entre os “mimos” estão travesseiros com tecnologia de espuma viscoelástica nas suítes Corner que fazem parte de um menu personalizado de opções para cada hóspede.
Antonio de Albuquerque, diretor do hotel NH Collection, diz que houve uma mudança significativa no perfil dos hóspedes do hotel nos últimos anos e cada vez mais pessoas escolhem lugares que sejam um refúgio para descansar, se desconectar e recuperar as energias. “Nosso foco tem sido adaptar serviços e ambientes para atender a essa nova demanda, oferecendo não apenas conforto, mas um verdadeiro caminho para o equilíbrio físico e mental.”
Leia mais: Anvisa aprova uso do Mounjaro para tratar apneia do sono

Arquitetura do relaxamento
Uma pesquisa divulgada pelo Sebrae revela que o serviço de hospedagem não precisa ser 100% especializado no assunto para receber o público do turismo de sono. Além de fugir da rotina, o novo viajante busca desacelerar e restaurar corpo e mente, e encontra nos hotéis e retiros especializados o ambiente ideal para isso. Entre os diferenciais estão a arquitetura, quartos com isolamento acústico, controle de temperatura e iluminação, colchões e travesseiros de alta performance, aromaterapia, cromoterapia e até acompanhamento de especialistas em sono.
“Para uma boa noite de sono é necessário ter uma iluminação aconchegante, menos clara, menos barulhento, um lugar com uma temperatura amena, uma cama que não seja nem muito dura, nem muito mole e precisa estar na altura adequada para cada pessoa. Tudo isso facilita muito em um sono de qualidade. Então, assim, uma coisa que sempre a gente vê nos hotéis são aquelas cortinas blackout, isso é super importante para a gente conseguir ter um sono de qualidade.” Adiciona Dr. Alexandre Nakasato, otorrinolaringologista e medico do sono.
Naindry Rodrigues, arquiteta especializada em refúgios regenerativos, explica que o ambiente tem influência direta na qualidade do sono. Segundo ela, é a harmonia entre a arquitetura e o design de interiores que faz com que a pessoa comece a relaxar e se preparar para dormir, muitas vezes, sem nem perceber.
“Quando nós projetamos um espaço, de certa forma, nós desenhamos assim o comportamento, como o corpo se movimenta, como a luz entra durante o dia, como os sons chegam até nós, tudo isso interfere no nosso ciclo natural de sono. O refúgio regenerativo é sobre permitir que o ambiente atue como um agente de cura, um espaço que ajuda o corpo a recuperar energia e o turismo do sono, ele tem tudo a ver com isso, porque não fala só sobre dormir mais, mas sobre dormir melhor e de uma forma consciente.”
Raio-X do sono
Estudos em neurociência mostram que noites bem dormidas são decisivas para o funcionamento saudável do cérebro, para a regulação das emoções e para viver por mais tempo e com qualidade. Ainda assim, em um cenário marcado por excesso de estímulos, longas jornadas de trabalho e constante conexão digital, o descanso verdadeiro se tornou um artigo de luxo, mas não deveria.
De acordo com dados da Associação Brasileira do Sono, cerca de 73 milhões de brasileiros sofrem de insônia ou dificuldades para dormir. É um problema de saúde pública que encontra, em ambientes preparados para o repouso, uma oportunidade de alívio.

Doutor Alexandre Nakasato, médico especializado em Otorrinolaringologia e Medicina do Sono, com MBA em Gestão em Saúde pela FGV, explica que, por mais que o turismo do sono venha crescendo nos últimos anos, essa escolha não resolve todos os problemas causados por meses de sono acumulado.
“Existe um aumento, sim, do distúrbio do sono. Isso em parte por causa do nosso modo de vida moderno. Então cada vez mais a gente procura qualidade de vida e o sono acaba sendo um ponto fundamental e mais valorizado. O turismo do sono, ele vai trazer benefícios à saúde, mas de uma forma bem limitada. Uma vez que a gente passa poucos períodos descansando nas férias, então ele tem realmente um efeito pequeno, transitório.”
Durante o sono profundo, o cérebro realiza processos essenciais como a consolidação da memória, a regulação hormonal e a remoção de toxinas acumuladas nas células nervosas. Quando essas etapas são interrompidas, os impactos se acumulam, comprometendo desde a capacidade de concentração até a resposta imunológica, ou seja, uma boa noite de sono, mesmo que no meio da loucura da rotina, é indispensável.
Como se dizia antigamente, uma boa noite de sono é a chave para um novo dia!
Leia mais: SP cria Rede de Inteligência do Turismo Sustentável
