(Atualizada em 19.10.25, às 14h30)
Israel lançou uma série de ataques em Gaza neste domingo (19/10), em resposta ao que descreveu como investidas do Hamas contra suas forças militares, segundo o Exército israelense. A ofensiva reacendeu os combates no enclave e representa o teste mais grave até agora ao cessar-fogo mediado pelos Estados Unidos, em vigor desde 11 de outubro, que havia interrompido dois anos de guerra.
De acordo com as Forças Armadas de Israel, os bombardeios e disparos de artilharia atingiram alvos do Hamas na área sul de Rafah, onde militantes teriam disparado contra soldados israelenses e lançado um míssil antitanque.
Benjamin Netanyahu, primeiro-ministro israelense, afirmou ter ordenado ao Exército que respondesse “com força” ao que chamou de violações do cessar-fogo por parte do Hamas. Uma autoridade militar israelense afirmou que novos ataques poderão ocorrer nas próximas horas, em retaliação a três ofensivas contra tropas israelenses neste domingo.
Escalada em Rafah
Moradores e autoridades de saúde locais relataram que os ataques aéreos israelenses e os disparos de tanques mataram pelo menos 18 pessoas, incluindo uma mulher, em diferentes pontos da Faixa de Gaza.
Testemunhas ouvidas pela AFP afirmaram que aviões israelenses efetuaram dois bombardeios em Rafah, no sul do território, em uma zona sob controle militar de Israel. Antes dos ataques, houve confrontos entre grupos palestinos armados — entre eles, o Hamas e outra facção local.
O braço armado do Hamas declarou que continua comprometido com o cessar-fogo e que não tinha conhecimento dos confrontos em Rafah, acrescentando que mantém contato com os grupos da região desde março.
Sob o temor de um colapso da trégua, famílias deixaram suas casas em Khan Younis, mais ao sul, e moradores correram para mercados no campo de Nuseirat, temendo novos bombardeios e possíveis bloqueios.
O episódio lembra a resposta de Israel a violações do cessar-fogo com o Hezbollah libanês no final de 2024 — trégua que, apesar das tensões, ainda se mantém.
O ministro da Defesa israelense, Israel Katz, afirmou que a “linha amarela”, para onde as forças israelenses recuaram sob o acordo de trégua, será fisicamente demarcada, e que qualquer tentativa de cruzá-la será recebida com fogo.
Trégua sob ameaça
O cessar-fogo, mediado por Estados Unidos, Egito e Catar, previa a suspensão dos ataques e o retorno de reféns israelenses em troca da libertação de prisioneiros palestinos.
Desde sua implementação, foram registrados diversos incidentes na região, com mortes de civis e trocas de tiros localizadas. O Hamas acusa Israel de violar a trégua ao menos 46 vezes, enquanto o governo israelense afirma que o grupo continua usando o território para planejar ataques.
Analistas apontam que o novo episódio representa o teste mais grave até agora ao acordo de paz temporário, alimentando temores de um colapso completo da trégua e a retomada em larga escala da guerra no enclave.
Passagem de Rafah e ajuda humanitária
Israel anunciou no sábado que a passagem de Rafah, entre Gaza e o Egito, continuará fechada, condicionando a reabertura ao cumprimento das obrigações do Hamas sob o cessar-fogo.
O governo israelense acusa o grupo de atrasar a entrega dos corpos dos reféns mortos. Na semana passada, o Hamas libertou todos os 20 reféns vivos e entregou 12 dos 28 mortos, afirmando que precisa de maquinário pesado para recuperar os corpos soterrados sob escombros.
Fechada desde maio de 2024, a passagem de Rafah era o principal canal de entrada de ajuda humanitária para Gaza. O acordo de cessar-fogo também prevê o aumento do envio de suprimentos e alimentos, mas, segundo as Nações Unidas, o volume ainda é insuficiente para conter a fome extrema que atinge centenas de milhares de pessoas, conforme dados do monitor global de fome IPC.
Ainda há questões centrais nas negociações, como o desarmamento do Hamas, o futuro governo de Gaza, a criação de uma força internacional de estabilização e os avanços rumo a um Estado palestino.
Por Por Alexander Cornwell e Nidal al-Mughrabi – Reuters