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O mundo está mais preguiçoso hoje em dia?

Pesquisa apontou que, em 2025, o perfil de consumidores em todo o mundo ditariam tendências ao descanso e ao ócio

Em janeiro deste ano, a WGSN, empresa de analista de dados e de consultoria global de previsão de tendências, apontou por meio de uma pesquisa que 2025 seria um ano de consumidores mais relaxados: “Preguiça terapêutica” e “Pijamas diurnos”, por exemplo, estavam entre os movimentos mais notáveis do levantamento.

Com este ano já nas semanas finais, fica então o questionamento: essa pesquisa tinha razão? 2025 foi, de fato, o “ano da preguiça”?

A resposta pode variar, dependendo de quem recebe a pergunta: tem quem ache, por exemplo, que o aumento no uso de inteligência artificial para redigir documentos, fazer a lição de casa e compor um e-mail para o RH seja o ápice da preguiça humana, mas há quem diga que se trata apenas do resultado normal do avanço tecnológico, como quando nós humanos deixamos de andar por horas até o trabalho depois que inventamos o transporte público.

“Preguiça terapêutica”

O conceito de “preguiça terapêutica” está intimamente ligado a tendências entre jovens nas redes sociais, como a chamada “lazy girl trend” (do inglês, “tendência da garota preguiçosa”) — um movimento comportamental nas redes, principalmente as verticais (TikTok, Reels e afins), sobre pessoas que escolhem priorizar o absoluto descanso e ócio em suas vidas.

Luiza (nome fictício), 33 anos, contou ao TMC com exclusividade (e muito bom humor) que priorizar mais o descanso e o conforto no seu dia a dia teve resultados mistos: “Perdi o bom senso por pura preguiça”, ela diz, rindo. “Qualquer coisinha já estou mandando a pessoa se (…) [podemos imaginar o que ela disse, mas pelo bem da matéria, vamos omitir o final da frase]”.

Para Luiza, a atitude tem vantagens e desvantagens, mas o principal motivo que a mantém priorizando a chamada “preguiça” é simplificar uma rotina para que não se torne sufocante.

“Estou quase como o título daquele filme: ‘Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo’”, brinca Luiza, que trabalha como designer freelance e também faz bolo para vender.

Num primeiro momento, é fácil — talvez até demais — apontar para os dados coletados pela WGSN, para as trends sobre descanso e afins como evidência de que sim, o mundo está preguiçoso e tudo isso é uma grande bobagem. Mas podemos também observar o que motiva esses fatores, e se há uma diferença entre a preguiça “comum” e a dita preguiça terapêutica.

À exaustão

A OMS (Organização Mundial da Saúde) apontou que mais de 1 bilhão de pessoas vivem com algum tipo de transtorno mental, sendo a ansiedade o que mais aparece no levantamento.

Por termos usado na matéria até aqui termos como “trend” e “inteligência artificial”, pode haver a impressão de que estamos falando apenas de uma suposta preguiça de adolescentes com tempo livre de sobra.

Mas não é o caso: a pesquisa da WGSN incluiu consumidores de todas as faixas etárias e, para além disso, a ansiedade não é uma exclusividade do público jovem. Em 2021, o Ministério da Previdência Social informou que cerca de 49 mil pessoas foram afastadas do trabalho por ansiedade; até junho de 2025, esse mesmo dado subiu para mais de 81 mil casos.

Andrade (nome fictício), de 29 anos, contou em entrevista exclusiva ao TMC que a chamada “preguiça” lhe custou o emprego: “Eu era PJ numa agência (…) e tava passando por muitos momentos difíceis — mortes em sequência na família, término de relacionamento — daí comecei a ‘cobrar meus direitos de PJ’”, ele conta, apontando que passou a não ir ao trabalho e/ou “trabalhar de casa” sem avisar.

“A rotina era muito puxada. Uma vez ou outra eu cochilava no trabalho e fui pego duas vezes”, relatou o rapaz. “Aí me mandaram embora”.

Provavelmente não discordaríamos da decisão dos chefes de Andrade, e nem ele mesmo discorda. Mas, analisando toda a conjuntura, será mesmo possível reduzir tudo isso a apenas ‘preguiça’ no sentido estrito da palavra?

O descanso como estratégia para produzir

Podemos tentar um exercício agora: ver a ideia de “preguiça” por outro ângulo. E nem precisamos de trends no TikTok para isso; afinal, já se discute o conceito de “strategic laziness” (preguiça estratégica) há mais de uma década.

Em uma publicação no subfórum Entrepreneur (do inglês, “Empreendedor”) no Reddit há 8 anos, um usuário compartilhou, com dados e números à parte, ele apresentou sua teoria sobre como seu dia rendia mais se reservasse quatro horas do dia para trabalhar, afirmando que, depois desse período, “você começa a ter retornos decrescentes” em produtividade.

Curiosamente, muitos concordaram com a ideia inicial, e os que estavam em desacordo não pareciam discordar da ideia central da teoria, mas sim do quão aplicável ela é em outros contextos.

Estou com preguiça. Termine a matéria logo

Sim, sim. Falamos bastante sobre preguiça e levamos a discussão para uma série de campos diferentes, e agora podemos finalmente responder a pergunta inicial sobre o mundo estar ou não mais preguiçoso atualmente.

E a resposta é um sonoro, assertivo, e retumbante…

“Talvez”.

Se tem algo que ficou claro por conta desta matéria — feita a duras penas e sem o uso de qualquer ferramenta de apoio que já não esteja nos pacotes Office e Google — é que a chamada “preguiça” existe de diversas formas. Algumas são causas; outras são consequências. Às vezes, ela é um recurso, e às vezes, uma máscara.

Não existe uma maneira concreta de definir o que é preguiça sem entrar em uma discussão filosófica sobre a natureza humana e sobre as relações do indivíduo com o trabalho, a vida privada e a vida social.

Mas se tem uma coisa que Luiza, Andrade e os anônimos do Reddit nos ensinaram hoje, é que nem tudo é tão simples quanto as pesquisas de mercado podem fazer parecer.

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