A revista Computers in Human Behavior Reports (do inglês, “Relatórios sobre Computadores no Comportamento Humano”) publicou em um estudo deste ano que jovens, especialmente adolescentes, têm recorrido a chatbots e aplicativos de inteligência artificial que simulam relacionamentos amorosos para formar vínculos. A pesquisa contou com jovens entre 13 e 17 anos; destes, 68,97% se identificam como homens, e 31,03% como mulheres.
A pesquisa
Os jovens que participaram da pesquisa foram encarregados de participar de simulações com diferentes tipos de IAs: alguns conversaram com interfaces que simulavam afeto e empatia, e outros conversaram com bots programados para respostas mais neutras.
Os resultados divulgados pela revista apontam que, depois de duas semanas, os participantes que criaram vínculos pessoais com a inteligência artificial demonstraram menos interesse em interações com outros humanos, além de um aumento no tempo de tela e sintomas de solidão e dependência emocional.
“Programada para demonstrar interesse”
No capítulo “Discussão” do estudo, os autores apontaram uma série de comportamentos curiosos relacionados à proximidade dos voluntários com as interfaces: por exemplo, a revista diz que todos os jovens que expressaram um compromisso sério com a interface também apresentaram níveis altos de investimento emocional no, digamos, “relacionamento” entre eles. Alguns até chegaram a dizer que estavam “casados” com a interface, ou que ela estava grávida de seus filhos.
Segundo os pesquisadores, apesar dos voluntários enfatizarem, repetidamente, que sabem que a persona com a qual estão conversando não é real, eles ainda demonstravam um interesse aumentado nelas conforme simulavam costumes humanos como casamentos.
Alguns dos jovens também listaram motivos pelos quais acreditam que o relacionamento com a IA era, em alguns aspectos, “melhor do que o relacionamento com humanos”. Entre as razões citadas, estão:
- Se sentir mais seguro para compartilhar segredos com a IA, por ser “programada para demonstrar interesse e ter empatia”;
- Ter um grau de controle maior sobre a IA, isto é, poder treiná-la para agir como a pessoa quiser;
- Acreditar que os chatbots são “mais amorosos, mais acessíveis e menos egoístas” do que humanos;
- Apreciar o poder de moldar a “aparência física” da IA conforme o que considera ideal.
Robôs também dão trabalho
O estudo também aponta reclamações dos jovens participantes, como a “censura do Sistema de Gestão Empresarial (ERP)” reduzir a capacidade da IA de suprir todas as necessidades deles, ou problemas técnicos da interface fazendo com que o chatbot perdesse os parâmetros de personalidade construído ao longo das conversas.
Para os pesquisadores, essas questões fizeram com que alguns dos voluntários perdessem o apego intenso que tinham pelo chatbot, descrevendo a relação como algo mais próximo de uma distração em momentos de tédio.
