A 27 dias do início da COP30, a presidência brasileira da conferência global do clima não esconde a frustração com a falta de ambição dos países ao apresentarem suas metas de corte de emissões, as chamadas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs, na sigla em inglês), não apenas na quantidade, mas também na qualidade.
“Infelizmente a apresentação de NDCs não foi tão satisfatória como a gente gostaria”, disse o negociador-chefe brasileiro na COP30, embaixador Maurício Lyrio. “Infelizmente tivemos entrega de NDCs muito acanhadas, e mesmo em setembro continuamos com ausências importantes.”
O presidente da COP, embaixador André Corrêa do Lago, também admitiu a frustração. “Temos que reconhecer que estamos frustrados sim. Já houve dois prazos não cumpridos, inclusive por países-chave, o que dificulta os cálculos”.
Até agora, apenas 62 países apresentaram seus números, com a promessa de chegar a 101 na COP30 e 125 até o final do ano. As ausências até agora incluem grandes emissores, como União Europeia e Índia.
Os Estados Unidos apresentaram sua NDC em 2024, ainda no governo Biden, mas o atual governo de Donald Trump já informou que está se retirando do Acordo de Paris.
O “quadro complicado” vai se converter em um relatório-síntese que vai traduzir as NDCs em aumento de temperatura que não deve ser das mais tranquilizadoras, afirmou Lyrio.
A frustração com as NDCs se une à já conhecida frustração dos recursos para financiamento, disse o embaixador.
O mandato da COP29, em Baku, que previa um aumento do financiamento das ações de combate às mudanças climáticas, adaptação e mitigação, ficou muito longe do US$1,3 trilhão necessário de ajuda para países em desenvolvimento, com apenas US$300 milhões prometidos.
“Esse gap de implementação na parte financeira agora se acresce a uma dificuldade de implementação também nas NDC”, disse Lyrio.
Na próxima semana, 72 delegações se reúnem em Brasília para a pré-COP. O evento, apesar de não oficial, serve para tentar acertar os ponteiros para as negociações que serão fechadas em Belém, em novembro. Entre os temas que a presidência brasileira pretende pressionar estão justamente as NDCs.
Apesar de as NDCs serem voluntárias, o Brasil vem cobrando que os países sejam ambiciosos em seus números, mas até agora sem grande sucesso.
Reuters