No dia 16 de outubro, Sabrina fez história ao conquistar sua primeira medalha de ouro em Mundiais, vencendo o contrarrelógio de 1 km da classe C2 — categoria para atletas com deficiência físico-motora que utilizam bicicletas convencionais.
Com o tempo de 1min20s020, ela não apenas subiu ao topo do pódio, mas também quebrou o recorde mundial da modalidade, tornando-se a primeira brasileira — entre olímpicos e paralímpicos — a registrar uma marca mundial no ciclismo de pista.
“Treinei muito para essa prova e estava focada em entregar o meu melhor. Foram dez meses de treinos específicos, planejando cada detalhe para melhorar o que ainda precisava. Graças a Deus deu tudo certo — veio o ouro, o recorde e uma felicidade que nem cabe em mim”, contou Sabrina à TMC.
A brasileira lembrou o momento exato em que percebeu o feito:
“Quando olhei para o placar, foi inacreditável. Ainda tinha a alemã para correr, e pensei: ‘A prata já está garantida’. Mas quando vi que o meu tempo tinha ficado na frente, foi uma sensação de dever cumprido. Até hoje parece que estou sonhando.”
O pódio foi completado pela suíça Rigling (1min20s299, prata) e pela alemã Hausberger (1min21s476, bronze). A prova marcou também a estreia do formato de 1 km no calendário mundial, substituindo a antiga distância de 500 metros.
Força, família e superação
Para Sabrina, a vitória vai muito além das medalhas: “Minha família é o ponto de tudo isso. Meu marido, minha mãe — eles são a minha base. O Matunaga, meu esposo, sempre me apoiou e acreditou que eu ia me dar bem na pista. Ele dizia isso desde o começo. E olha, a culpa é dele — foi ele que me trouxe para o ciclismo!”, brinca.
Ela também destacou o valor simbólico de ter os dois ao seu lado nas arquibancadas do Velódromo:
“Ter eles comigo, vendo de perto essa conquista, é essencial. Quando a família está feliz, eu estou bem, eu estou em paz.”
Quem é Sabrina Custódia?
Nascida em São Paulo, em 11 de agosto de 1981, Sabrina teve a vida transformada aos 18 anos, quando sofreu uma descarga elétrica de alta tensão. O acidente resultou na amputação das mãos, do pé direito e dos dedos do pé esquerdo.
O que poderia ter sido um ponto final tornou-se um novo começo. Determinada a seguir em frente, Sabrina redirecionou sua vida para o esporte adaptado, encontrando no ciclismo uma forma de reconstrução, independência e expressão.
Desde então, vem construindo uma carreira de destaque:
- Medalhas de prata nos Mundiais de pista nas edições de 2022 e 2024 na prova contrarrelógio classe C2.
- Ouro nos Jogos Parapan-Americanos de Santiago 2023 (contrarrelógio C1-5).
- Referência do paraciclismo brasileiro e inspiração por sua trajetória de resiliência.
O futuro sobre duas rodas
Após um ciclo de conquistas, Sabrina já pensa no próximo desafio: os Jogos Paralímpicos de Los Angeles 2028.
“O próximo sonho é conquistar uma medalha paralímpica — e, se Deus quiser, o ouro. Em Tóquio, fiquei em sexto lugar, apenas sete centésimos do bronze, mas cheguei machucada, com pouco tempo de treino depois de quebrar a clavícula. Agora quero chegar 100%.”
Determinação não falta:
“Quero bater o meu próprio recorde e deixá-lo ainda mais difícil de ser superado. Vou seguir treinando com foco nos mínimos detalhes. Esse é só o começo.”
O desempenho de Sabrina Custódia no Mundial de 2025 reforça o papel do Brasil como potência em ascensão no paraciclismo de pista — e mostra que, com força, foco e amor, nenhum sonho está fora de alcance.